Até tu, Brutus?

Até tu, Brutus?

4 de janeiro de 2022 Off Por Dr. Leandro Pinho

Não são apenas os meros mortais que podem entrar na mira da polícia ou da Justiça por causa de vazamento de dados. Nos últimos dias, a notícia de que até o presidente do Brasil terá que explicar porque expôs um inquérito mantido sob segredo nas redes sociais, durante uma live.
A Polícia Federal intimou o presidente Jair Bolsonaro a depor no inquérito que investiga o vazamento de documentos sigilosos, que ainda fazem parte de uma investigação. O fato ocorreu em 4 de agosto, quando Bolsonaro divulgou nas redes sociais a íntegra de um inquérito da Polícia Federal que apura suposto ataque ao sistema interno do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018 – e que, conforme o próprio tribunal, não representou qualquer risco às eleições.
A grande polêmica ocorre porque o inquérito divulgado pelo presidente ainda não foi concluído pela PF. Por lei, o servidor público tem obrigação de proteger informações sigilosas. O presidente também se enquadra no quesito “servidor”.
É claro que depois da live do presidente o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou a abertura do inquérito para investigar o vazamento das informações, que são sigilosas. A decisão atendeu a um pedido feito pelo próprio TSE. O ministro também determinou a remoção dos links disponibilizados por Bolsonaro com a íntegra da investigação e o afastamento do delegado da PF que era responsável por esse inquérito.
Na transmissão que aconteceu em agosto, foi divulgado o inquérito da PF sobre o suposto ataque aos sistemas do Tribunal Superior Eleitoral. As informações da apuração teriam sido distorcidas e tratadas como definitivas, mesmo sem a conclusão do inquérito pela polícia. Em seguida, Jair Bolsonaro publicou em rede social a íntegra do inquérito, que até então estava em sigilo. Horas depois da transmissão, o TSE divulgou resposta para esclarecer que o acesso indevido aos sistemas da corte não representou qualquer risco à integridade das eleições de 2018.
O caso deste vazamento, feito pela pessoa que ocupa o cargo mais importante do País, expõe algo que é rotina no País: a facilidade para se conseguir dados classificados como sigilosos. Hoje, é muito fácil você encontrar qualquer tipo de informação, seja em ações para ganhar visibilidade (como foi o caso do presidente) ou mesmo dinheiro (o que criminosos buscam vendendo dados de pessoas físicas ou empresas).
O ano de 2021 foi marcado pela explosão de casos de vazamentos e também pela efetivação da aplicação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), já com a cobrança de multas milionárias em caso de desrespeito. Porém, com a grande mudança que a sociedade passa por causa da pandemia, com um ‘boom’ de serviços pela internet, os dados ficaram mais expostos e muita gente se aproveitou. Informações divulgadas pela CNN nos últimos dias mostram que os ataques cibernéticos cresceram 92% no País.
Diante de um quadro tão instável, o melhor caminho é a adoção das medidas que garantam a proteção de dados dentro do que é exigido pela lei. Se até o presidente terá que dar explicação, o que será de nós?